quarta-feira, 22 de julho de 2009

As vacas devem estar loucas

Permitam-me que vos fale hoje sobre a vaca, esse simpático animal de olhos tristes que todos conhecemos tão bem, tal é a importância que o bichinho assume na nossa dieta alimentar. Perceberão mais adiante porque é que vos trago aqui hoje tão bucólico tema, numa altura em que porventura seria mais adequado falar de outras coisas eventualmente mais interessantes. Acontece que a vaca me pregou uma rasteira (ou terá sido ao contrário?), numa altura em que dela esperava mais cooperação (ou será que era mais atenção da minha parte?). Pois é. Nenhum animal foi mais estudado nos meus tempos de escola primária do que a vaca, como todos sabemos um simpático herbívoro ruminante, que se delicia com ervas frescas e que, à falta de melhor, como uma ração que, entre outras coisas, lá terá o sabor dos campos onde gosta de pastar. Foram milhentas as redacções onde, a propósito da Primavera e dos campos verdes ou de outra coisa qualquer, lá vinha a vaquinha, e mais o leite fresquinho que nos dava, e mais a suculenta carne que produzia. Bem, acho que esta parte da carne não era assim tão estudada na escola primária, até para não tirar o romantismo às redacções. Mas adiante. Não têm conta os desenhos, por sinal muito mal feitos já que o meu jeito para desenhar deixava muito a desejar, onde as vacas eram as artistas principais, invariavelmente num imenso espaço riscanhado de verde onde supostamente estariam a pastar. Mais tarde nas Ciências da Natureza, voltámos a atacar a vaca, salvo seja, claro, mas aí para percebermos melhor outras dimensões do metabolismo. Eis senão quando, muitos anos e muitos litros de leite depois, quando me perguntam em público um exemplo de um animal carnívoro numa daquelas provas tipo speedy gonzalez eu respondo vaca! Nem mais. Claro que toda a gente e eu próprio se torceu de espanto: a vaca um animal carnívoro? E então as redacções da quarta classe? E as ervinhas sabem a hambúrguer? E o leite vem com sabor a presunto, como uma certa marca de batatas fritas. Nada disso. Com a pressa, e porventura com a fome própria do adiantado da hora, o meu cérebro processou primeiro o bife e só depois o animal em questão. De qualquer coisa semelhante a carnívoro, apenas tens aqueles suculentos pedaços de carne que têm nomes curiosos como acém, pojadouro, alcatra ou simplesmente bife do lombo. Por isso, desculpa lá, estimada vaquinha, mas saiu-me aquela, estando eu farto de saber que tu és uma indefectível criatura herbívora. Mas deixa lá que vou pagar bem as minhas penas. Os meus amigos já se encarregaram de moer o juízo, com piadas de circunstância sobre a nova categoria biológica em que situei a minha dieta alimentar. E os meus inimigos, também não deixarão passar em claro a oportunidade. Quanto ao resto, continuarei a achar-te um animal simpático, pese embora possas ter posto em causa um belíssimo cruzeiro para oito pessoas, que cairia que nem ginjas. Mas o jogo é assim, umas vezes ganha-se, outras perde-se. E comigo, poucos são os jogos que ganho. Bem, dizem que quem não tem sorte ao jogo … Será verdade?

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